Projeto Raízes da comunidade.
"Teatro Barracão Matias"
FUNDAÇÃO ELIAS MANSOUR.
Foi Idealizado no final da década de 70, pela Federação de Teatro Amador do Acre (Fetac), o teatro Barracão localizado em um dos bairros mais populosos do Acre, a Sobral, volta a ser um espaço de encontros, trocas de experiências e proliferação artística-cultural.
Nos anos 80, os grupos de teatro do Acre não tinham muitos espaços para suas manifestações. Por isso, eles se uniram e juntos lutaram por um espaço só deles. Foi então que o governo deu o que tinha, o local que antes estava destinado a ser o necrotério do Hospital Geral na época.
O projeto de reforma e revitalização do Teatro Barracão faz parte de um conjunto de 19 equipamentos artístico-culturais, além da implantação do Museu dos Povos Acreanos. Os investimentos do governo do Estado somam mais de R$40 milhões, entre obras, mobiliário e equipamentos. Os espaços estão localizados em Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Epitaciolândia, Tarauacá, Sena Madureira, Xapuri e Brasiléia.
O Teatro Barracão é um símbolo de resistência cultural na década de 80. O espaço possui a Sala Matias, com capacidade para 150 lugares, dirigida a apresentações teatrais, oficinas e outras atividades. Já o espaço de inclusão digital foi batizado com o nome do diretor teatral e ator, Beto Rocha. A biblioteca recebe o nome de Vó Nazaré, contadora de histórias e atriz. E a Sala Multimídia leva o nome do poeta, compositor e bailarino Maués Melo.
"Matias
José Marques de Sousa, o Matias filho mais velho do migrante cearense Moisés Matias de Sousa (1902 - 2001) e da acreana Maria Marques de Sousa, nasceu na colocação Ipu, seringal Restauração às margens do igarapé Penedo em Tarauacá. Como todas as crianças daquela época, Matias aprendeu cedo como extrair o látex e os conhecimentos da floresta, com seu pai aprendeu também a arte da carpintaria. Já adulto deixa o seringal com mulher e filhos para vir à cidade no intuito de dar uma melhor educação aos filhos.
Chega na cidade de Rio Branco no ano de 1969. O contato com a cidade cria grande impacto em Matias, que sentiu as dificuldades de um seringueiro recém chegado a um modo de vida diferente dos seringais acreanos. Na cidade aprende a ler, assistindo aulas no MOBRAL, a partir daí participa com um dos fundadores das Comunidades Eclesiais de Base do Acre como monitor e de Grupos de Evangelização da Igreja Católica.
Matias foi um seringueiro, poeta e contador de histórias. Escreveu diversas peças, nas quais evidenciava suas preocupações sociais com a população local. Ele foi um dos grandes mentores da Comunidade Eclesial de Base do bairro Baía, em Rio Branco, e também um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores no Acre. Esteve sempre envolvido com as questões relacionadas à Igreja, especialmente as relacionadas à Teologia da Libertação. Ao lado de nomes como Chico Mendes, Hélio Pimenta, Nilson Mourão entre outros se torna um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores acreano.
Matias foi um dos maiores representantes do ativismo cultural no Acre. Seu contato com o teatro no Teatro Barracão,na Baixada do Sol em Rio Branco de Rio Branco fez surgir dessa rica vivência, entre o movimento social e a cultura popular, no dia 21 de janeiro de 1971, o grupo de teatro De Olho na Coisa usado como instrumento de comunicação para denunciar as más condições da população.
"Teatro
Matias iniciou em 1978 um movimento organizando grupos de teatro que realizavam apresentações gratuitas, reunindo jovens e instituições religiosas. Junto com Abrahim Farhat (Lhé), João Eduardo e outros companheiros da época colaboraram na ocupação de toda a região que hoje é chamada de Baixada do Sol em Rio Branco. Através da arte e cultura popular articulou e ajudou a devolver a dignidade às muitas famílias expulsas dos seringais que vinham para a cidade e não tinham onde morar. Durante os anos 80 dedicou-se ao teatro.
Em 1986 participou das eleições como candidato a senador pelo PT-AC junto com os então candidatos Chico Mendes deputado estadual, Marina Silva deputada federal e Hélio Pimenta ao governo, não obteve votos suficientes para se eleger.
Em 1987 é convidado por Francisco Gregório Filho, então presidente da Fundação de Cultura do Acre, para participar da equipe de coordenação, coordenando as atividades no Teatro Barracão. Matias produzia roteiros baseados tanto na cultura acreana como temas ecológicos, obras como "O clamor da Floresta" e "Egoísmo que escraviza e destrói".
Em 1994 Matias conseguiu financiamento do Unicef para o Projeto Arte Educação para Crianças. Chegou a ser destaque no Programa Criança Esperança em 1996.
Em 1997, Matias falece aos sessenta anos de idade em Rio Branco. Ano em que a Universidade Federal do Acre lança a revista Temporal Histórias e Fontes Orais. Varadouros de Uma Vida: Matias por ele mesmo, nº 1 organizada pelo professor Carlos Alberto de Souza.
"Betho Rocha
Alberto Antônio Araújo Rocha nasceu em Rio Branco e logo cedo, ainda adolescente, se apaixonou pelo teatro. Logo cedo, ao lado de pessoas como Binho Marques e Marina Silva, que se tornariam personagens icônicos da política no Acre do futuro, ele como vice-governador e depois governador Estado, e ela como senadora, ex-ministra e candidata à presidência da República, além de outros jovens do bairro da Estação Experimental, passaram a se envolver com a arte de representar. Eram tempos difíceis, a ditadura militar dando sinais de que estava ferida, mas viva com sua política de censura e perseguições a todos àqueles, principalmente artistas, que não rezassem pela cartilha dos generais que haviam assaltado o poder em 1964 e que levariam o país a 25 anos – ate 1985 – de uma ditadura que solapava as liberdades, em todos os sentidos
Foi neste clima que Betho Rocha e seus amigos começaram um movimento que levaria à criação da Federação de Teatro Amador do Acre (Fetacre), que acaba de completar 40 anos de fundação, além de montar vários espetáculos regionais e outras peças que chegaram a ser premiadas em festivais de vários estados e que chegaram a ser, inclusive, elogiados pelos críticos dos grandes jornais do país, na época.
Após transitar por vários grupos, Betho Rocha criou seu próprio grupo, o “Adsaba”, através do qual criou e apresentou peças premiadas no país a fora. Como um amaturgo defensor da linguagem de fundo e preocupação antropológicos do movimento teatral no Acre, bem como um militante da consciência libertária. Ele defendia uma linguagem teatral que fosse preocupada com as questões da identidade do homem amazônico. Acreditava que, através do estudo de rituais e tradições indígenas, seria capaz de explorar aspectos específicos do modo de vida da população local, representando a sua identidade e tradições específicas.
Exatos 24 anos depois, o assassinato do ator e diretor de teatro Betho Rocha, morto as golpe de faca à altura da garganta, nunca foi esclarecido e o assassino nunca identificado e que certamente continua em liberdade. O corpo do artista foi encontrado numa rede, em seu apartamento, localizado num dos blocos da Rua Luiz da Silva, no Conjunto Manuel Julião, em Rio Branco (AC). Ele foi assassinado aos 38 anos de idade, em setembro de 1997.
O crime é envolto em mistério porque o artista era uma pessoa querida e aparentemente sem inimigos. Além disso, seu apartamento não tinha características de arrombamento nem tampouco foram roubados objetos de valor. Na posição em que o corpo foi encontrado, deitado numa rede, a conclusão da polícia, na época, foi que o artista foi assassinado enquanto dormia.
A polícia descobriu que o artista, homossexual assumido, de vez em quando levava namorados para o apartamento e seu assassino pode ter sido um dos homens com o qual o artista se relacionava. Só que a polícia na época, que não dispunha de equipamentos para colher impressões digitais no local, nunca encontrou pistas que pudessem levar à identidade do criminoso.
Criativo e inquieto, Betho Rocha um certo dia escreveu o poema a seguir: “Vou andar por entre terras ainda não descobertas. Se não houver amanhã, cantarei hoje ao som do silêncio a minha última canção em vida. E pelos caminhos transcendentais, de por ai… Quero estar nu. Por que minha alma vai entrar no infinito da morte na certeza que serei eterno”.
Parecia, portanto, uma premonição do que lhe aconteceria. Seu corpo foi encontrado seminu. O poema era uma definição de vida sem meios termos, sempre entre a irreverência e a ternura, de quem viveu e morreu fazendo arte da melhor maneira e qualidade.
"Ivete Maria de Souza
Nascida e criada no Seringal até os 15 anos de idade, Ivete Maria de Souza já foi faxineira, auxiliar de enfermagem e trabalhou com serviços gerais. Esta semana sua história ganhou o mundo porque ela conseguiu o feito de, aos 70 anos de idade, concluir um Curso Superior, o de Artes Cênicas, na Universidade Federal do Acre (Ufac).
“Eu estudei só até o Ensino Médio e parei. Terminei aperreada porque eu já tinha um filho. Aí deixei mesmo de estudar. E eu só sonhava em um dia fazer uma faculdade. Mas como? Se eu não tivesse condições.”, diz.
A caminhada para a realização da conquista do tão sonhado “canudo”, recomeçou quando recebeu o convite de uma colega que fazia o Curso de Letras na Ufac. “Ela já estudava aqui e me chamou para fazer o Enem. Eu nem quis na hora. Disse pra ela que já estava tão velha, cansada, e ela me disse que não, que nunca é tarde para estudar. Aí ela fez a minha matrícula, eu fui lá, fiz e passei de primeira.”, relata.
Dona Ivete ingressou no Curso de Artes Cênicas em março de 2014, aos 65 anos de idade e afirma: “se não fosse de graça eu não teria feito a minha faculdade, por isso é importante que nós possamos ter uma Universidade pública, gratuita e de qualidade.", defendeu.
Antes mesmo de concluir o curso, Ivete, aos 69 anos de idade foi aprovada para um estágio e agora, após concluir a graduação já pensa na pós. “Comecei com 65 anos, estou com 70 e com espírito de 20 anos e ainda fui convidada pelo reitor para fazer o mestrado.”, concluiu.